segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Roubos ao Estado

A mentalidade do português é uma coisa curiosa... se um individuo roubar um banco ou uma velhinha na rua, é um bandalho; se roubar o Estado, é um herói!
No outro dia dizia que me sentia um pouco ofendida quando verificava que num café não registavam na máquina o consumo que eu efectuava - pelo menos que me fizessem um pequeno desconto no preço já que estão a meter ao bolso os meus 13%. Claro que, opinião geral, eles fazem bem em comer ao Estado esses 13% do IVA. Aquilo que eu acho que o português não percebe é que não estão a roubar ao Estado esses 13%, estão a rouba-los ao meu bolso (descaradamente) e ao bolso de todos os outros portugueses. Aquilo que se vê é: Recebi 10€, não registei, ganhei 1€ e tal (desculpem lá não fazer as continhas certas :)
Aquilo que acontece é: O Estado recebeu menos 1€ e tal (multiplicado pelos milhares de desvios que ocorrem diariamente), não tem dinheiro (sim, para os luxos deles, mas eventualmente se eles estiverem felizes, alguma coisa nos há-de calhar) e aumentam os impostos.... o povo desvia mais ainda, eles ficam mais aflitos e lá aumentam de novo os impostos.... O povo queixa-se e diz que a solução é desviar ainda mais! Alguém está a seguir o nosso cachorro aos círculos a tentar apanhar a cauda?!?
Também se passa o mesmo na Função Pública. No outro dia comentava com uma amiga e colega que cada vez que ela tirava uma fotocópia particular - hipoteticamente - estava a roubar-me, a roubar-se a ela própria, a roubar todos os contribuintes e ainda a prejudicar o dono da pequena loja de fotocópias que se esforça por ainda subsistir - a prejudica-lo de duas formas, ao contribuir para o aumento dos impostos e ao negar-lhe as fotocópias que lá poderia tirar. É também contribuir para o desemprego (com o encerramento da mesma dita lojinha) e ainda para o desflorestamento das florestas (sim porque, convenhamos, as fotocópias de graça custam menos, por isso, se não estiverem mesmo de agrado tira-se outra e deita-se fora a anterior!)
Neste momento tenho que me lembrar do velho ditado: "Quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra!"
Acho que a diferença é que se tivermos consciência destes factores, vamos condicionar o nosso comportamento mesmo nos pequenos furtos. Se calhar vamos pensar duas vezes antes de deixar as luzes acesas ou a torneira aberta dum estabelecimento público ou privado, racionar as fotocópias que vamos tirar, etc.
Mas o que vejo são individuos que têm casas perfeitas, sem um grão de pó, e carros aspirados diariamente, e que depois na rua deitam todo o tipo de esterco para o chão, mesmo com caixotes de lixo ao lado - geralmente a desculpa são os pobres dos moços do lixo que têm que ter trabalho ou perdem o emprego - e todo o tipo de projecteis com os carros em andamento; ou gente que em casa não tem uma luz acesa, se preciso até às escuras comem, que se orgulham de só tomar banho de chuveiro, nunca de imersão, que têm ar condicionado para as visitas e que só abrem o frigorifico uma vez por dia... mas depois nos cafés e no trabalho deixam as luzes das casas de banho acesas, as torneiras abertas, usam um rolo de papel higiénico para um xixi, ligam o ar condicionado no máximo no trabalho e que se for preciso até se esquecem do mesmo ligado de noite - lógicas quem me ultrapassam, tenho que admitir!
Eu sempre achei que em minha casa posso fazer o que me apetece, mas na rua nem por isso porque é pública. Mas acho que actualmente as pessoas andam tão ocupadas a olhar para o umbigo que nem reparam nas outras pessoas que passam mesmo ao lado na rua, também de olhos no umbigo...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Lady Gaga

Quando era pequena e apesar das dificuldades que a minha mãe tinha em me fazer engolir alguma coisa, nunca foi usada comigo a famosa frase “tanta criança a passar fome em África, não se pode desperdiçar comida.” Talvez - ou não - por isso nunca percebi como é que eu comer alguma coisa poderia contribuir para matar a fome das famosas criancinhas de África ou aliviar a minha consciência. E talvez também seja por isso que não perceba o escândalo em torno do vestido da Lady Gaga…. A senhora comprou uns quilos de carne que ninguém vai comer…., e depois?!?!?! Nem as crianças vão ficar mais famintas, nem ficariam menos se ela não comprasse a carne. Existe talvez – e é um grande talvez - uma vaca que foi morta um dia mais cedo para substituir a carne que ela usou, e um talhante que ganhou mais uns trocos.
Aparentemente Lady Gaga queria demonstrar um ponto – se não tomarmos cuidado, seremos tratados como carne e ela não o quer ser. Parece-me que ela não conseguiu o seu objectivo em pleno, mas na realidade o que me chocou não foi o vestido dela – que realmente era feio – mas, como sempre, as reacções das pessoas.
A Fátima Lopes – estilista – faz obras em pele para deleite de meia dúzia de privilegiados e é uma artista; A tourada continua a existir e as pessoas continuam a assistir porque é tradição; Ninguém vai de transportes públicos para o trabalho, mas com carro particular porque é mais confortável; A mulher compra vinte quilos de carne e usa-os como bem lhe apetece, é uma aberração que não pensa nas criancinhas de África.
Gostava de saber quantos de nós pensamos nas criancinhas de África no dia a dia, quando compramos mais uma peça de roupa por prazer ou nos queixamos que ainda não conseguimos comprar um carro novo porque o actual tem quilometragem a mais (a tal falta de hábito no uso dos transportes públicos) …. Eu não, podem crer!

Para quem ainda não viu o vestido, aqui vai um link: